Vidas Breves II
O rapaz estava cansado. Não lembrava a última vez que tinha deitado numa cama confortável. Quando abriu a porta de casa, voltando da viagem em que vinha conhecendo vários lugares maravilhosos, não pôde pensar em outra coisa além de um banho e um bom descanso numa cama de verdade. Seus pais não estavam em casa, mas ele tinha as chaves que haviam pertencido à sua irmã antes dela casar. Há muito ele não via a fámília e os amigos com os quais havia crescido. Na manhã seguinte iria passar todo o seu tempo visitando os mais chegados e botando o papo em dia. Entrou no banheiro e tomou um banho demorado. Foi até a cozinha, preparou algo para comer, pegou seu diskman e colocou o CD do Pixies que comprara numa loja esquecida no fundo de uma galeria quando voltava para casa. Desligou a luz do quarto e com o volume no máximo foi até o armário para guardar um dinheiro que havia economizado no cofre que seus pais haviam colocado lá. Ele não ouviu quando abriram a porta da sala e perguntaram assustados quem estava lá; nem quando empurrando a porta do quarto seu pai lhe deu dois tiros nas costas lhe deixando estirado no carpete, sangrando. O pai, que não via o filho desde o início do ano que passara, não pôde fazer nada além de chorar enquanto colocava o revólver na boca e puxava o gatilho com uma dor enorme em seu coração. No CD terminava a música DEAD...
Your world is an ashtray, we burn and coil like cigarretes; the more you cry your ashes turn to mud.
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